Os principais impactos da Reforma Protestante para a formação da sociedade moderna.
A Reforma Protestante foi um movimento de cunho religioso,
que tem seu marco nas noventa e cinco teses de reprovação à prática católica em
1517, por Martinho Lutero. Porém seu contexto histórico e desdobramentos vão
para além daquelas teses suscitadas por Lutero. Foi a culminação de
insatisfações gestadas há bastante tempo devido aos excessos do clero e sua
promiscuidade com o poder e, por ocasião, potencializada pelo humanismo
nascente na Europa. Também podemos identificar outra força subjacente, os
ideais burgueses, também tentando abrir espaço no cenário de poder econômico e,
quiça, político.
Nesse cenário trava-se o embate que irá revolucionar o mundo
ocidental em diversos aspectos. Como o mundo feudal era sustentado pelas
superstições e exacerbado por uma religiosidade tutelada, e a burguesia bem
como outros setores da sociedade moderna pretendiam sacudir de si o sistema
feudal, viram na possibilidade de quebra da hegemonia papal pelos protestos
contrários a suas práticas a oportunidade que lhes favoreciam. Guardadas as
devidas diferenças, homens como John Wycliff, Lutero, Zwinglio e Calvino
propunham uma religiosidade que “libertava” o homem comum das amarras papal,
dando-lhes autonomia e acesso as Escrituras em sua língua vernácula. Pode
parecer pouco, mas devemos lembrar que a tutela papal proibia o homem comum de
ler a Bíblia, deixando de obter assim uma visão crítica e percepção embasada
das cotradições clericais.
Isso possibilitou que nações se libertassem das regras de
Roma e obrigação de tributos, que drenavam grandes somas em dinheiro.
Importante também que com essa ruptura as terras da Igreja, que eram imensas,
passaram para as nações de origem, o que vem possibilitar o reforço do projeto
burguês que precisava de terras para suas matérias primas. Também a liberação
de grande contingente de camponês que acorrem às cidades, engrossando a massa
crítica de trabalhadores assalariados. Essas reformas atendem as necessidades mercantilistas
na medida em que fortalece um governo central autônomo, por estar agora
desvencilhado da batuta do Papa; aporta mão de obra motivada por ambição
monetária, além de criar uma mentalidade onde o trabalho e expansão de mercados
deixam de ser função inferior na economia e passa a ter relevância capital.
Enfim, A Reforma traz em seu turbilhão transformações que
irão dar contornos ao mundo moderno. Mundo que interessa a uma classe nascente,
a burguesia. Mas não só a essa, também aos monarcas absolutistas. Atende em
muitos aspectos aos desígnios burgueses, porque revoluciona a maneira do homem
estar no mundo. Autônomo, desperto para o conhecimento e curiosidade crescente de
seu universo; valorizando o trabalho e a riqueza dele extraída, passa a acumular
diferentemente dos valores feudais perdulários, agora capitalizando e, pela
nova interpretação religiosa, acumulando como sinal de bem-aventurança divina.
O dinheiro não é mais pecado se não for gasto no luxo e a luxúria extravagante.
Max Weber teoriza que o calvinismo, importante doutrina
protestante, suporta a máquina burguesa e seu capitalismo ao definir uma
religiosidade austera que privilegia o trabalho e a riqueza como sinal da
eleição do homem à salvação. Fórmula perfeita para a acumulação do capital que
possibilitará grandes investimentos econômicos nos períodos que se estende a
frente do mercantilismo até à Revolução Industrial, sepultando o Antigo Regime,
e estabelecerá o capitalismo como ordem econômica hegemônica.
Márcio de Carvalho Bitencourt
Não gostei a maioria do que se diz ai da Igreja não é verdadeiramente o que aconteceu,não foi bem assim
ResponderExcluirConcordo com o texto, bem coerente, e como teólogo posso dizer, que a maioria senão tudo o que disse a respeito da igreja está correto.
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