O Cristianismo é um Platonismo para o Povo



A relação entre o pensamento de Platão e o cristianismo é sabidamente íntima, e ocorre desde os primórdios de sua fundação, na Patrística. Temos que não há um só Platão, porém vários, segundo seus intérpretes e seguidores. Daí o neoplatonismo ter ensejado várias escolas filosóficas, inclusive de cunho religioso. Porém a linha central de seu pensamento, inegavelmente, serviu àquelas teorias que pretenderam a metafísica. O nascente cristianismo embeberou-se sofregamente no manancial teórico do platonismo, guardadas as devidas proporções.

O sistema dualista platônico atendeu a necessidade de racionalização que a cristandade ansiava. Na eminente figura de Agostinho assume uma justificativa da teorização do embate entre “carne e espírito”, identificando-se com os elementos filosóficos platônicos do mundo sensível em oposição ao inteligível, matéria e mundo das Ideias. A analogia é de fácil apreensão, correlacionando a alma com o mundo das Ideias e o mundo sensível à “carne”, sendo esta idêntica à efemeridade e inferioridade do mundo sensível platônico.


Nietzsche, que se oporá a esse modelo, afirmara ser este a racionalização dos fracos e covardes que temem a instabilidade da vida, por isso se ancoram na ilusão platônica de que existe um mundo imutável e perfeito para onde eles podem fugir. Negam, assim, o direito daqueles que, fortes, enfrentam dionisicamente todas as adversidades intrínsecas da vida. Mais ainda, estes vivem, diferente daqueles, uma existência aguerrida e tiram alegria de sua existência.

Óbvio que o sistema platônico, o nietzscheano e cristão são superiormente mais complexos do que a simples consideração dualista, assim como a crítica demolidora que Nietzsche engendra a toda metafísica, sobretudo a da Igreja. Para o filósofo alemão em consideração o cristianismo é sim uma instituição que tem no platonismo sua fundamentação teórica e degenerante, e tem feito triunfar os “fracos” sobre os “fortes”, pela hegemonia do cristianismo no ocidente. Contudo, não se pretende pelo exposto um julgamento ou classificação de superioridade de qualquer das posições expostas.

Márcio de Carvalho Bitencourt

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