Contraponto entre o modelo europeu de sociedade medieval e o novo modelo que surge no pós-renascimento

Muitos contrapontos, entre a sociedade medieval e a proposta que surge em consequência do Renascimento, são possíveis. Porém vamos observar apenas alguns em contraste. A sociedade medieval era estática, enquanto a que fermenta como desdobramento das transformações iniciadas pelo Renascimento e impulsionada, agora, pelo Iluminismo assume um dinamismo extraordinário, que irá consolidar o projeto humanista que mexeu nas bases estamentárias e, sobretudo, religiosas que perdurou em torno de mil anos.
O Iluminismo, que foi o movimento de transformação paradigmática resultante do Renascimento, abrangeu todas as esferas do mundo humano, nos campos filosófico, político, social, econômico e cultural. Consolida a quebra de hegemonia da Igreja e devolve ao homem sua autonomia e uso da razão como valores máximos. Soma-se a isso, por razões históricas e políticas, a ascensão da classe burguesa, que surge do segmento não privilegiado do arranjo social medieval, artesãos e mercadores. É dentro da classe burguesa que amadurece o novo arranjo social que substituirá o modelo que vigorou no medievo. Participam dessa força transformadora setores da aristocracia, que acreditavam ser a razão único instrumento que pudesse levar a humanidade a realizar uma sociedade virtuosa.
Na política, essas transformações significaram ruptura do sistema medieval, que ainda mantinha resquícios no absolutismo e manutenção do poder clerical, culminando na Revolução Francesa. Na economia, observa-se a ascensão da fisiocracia burguesa em oposição ao mercantilismo que em certa medida trazia traços de uma economia centralizada, semelhante às práticas de vassalagem, guardadas as devidas proporções. Na filosofia, o neoplatonismo corrobora o racionalismo, princípio caro aos iluministas. Culturalmente podemos, além das transformações já mencionadas, citar a consolidação do humanismo colocando o homem no centro de todas as considerações filosóficas e sociais, afastando-se assim do teocentrismo que dominara a cena em todo período medieval.
Essas mudanças irão forjar outro modelo social, radicalmente dessemelhante do sistema medieval que os iluministas chamarão de idade das trevas.  Também ensejarão revoluções que chegarão até o Novo Mundo, inspirando inclusive a Inconfidência Mineira. Notável também os impactos no pensamento científico, culminando na Revolução Industrial por conta da nova visão que incentivava o homem perscrutar a natureza como algo a ser dominado e passível de transformação, já que a sacralidade intocável com que a igreja dogmatizava a natureza ruiu com a derrocada da preponderância de Roma nos assuntos seculares.
Enfim, abre-se a possibilidade de muitas outras propostas sociais, além do liberalismo que vigorará, como por exemplo, a social democracia e o socialismo. Vive-se hoje, resultado do modelo social pós-renascimento, em comparação com o sistema estático medieval, um mundo social dinâmico que cada vez mais encurta seus períodos revolucionários.



Márcio de Carvalho Bitencourt

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