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Mostrando postagens de 2012

A Lógica do Poder em Maquiavel

Maquiavel, pensador florentino da Renascença, pode ser considerado fundador da política moderna. Seu pensamento político é inovador, pois está baseado na história real da humanidade e suas experiências concretas, se afastando da tradição filosófica e teórica que até então orientava os pensadores políticos – Platão e Aristóteles eram as maiores referências de sistematização política. Entre suas importantes contribuições para a prática política está sua concepção de exercício do poder. Se pensarmos o poder, entre outras definições possíveis, como faculdade de exercer autoridade política, poderio, soberania e capacidade de produzir efeito de dominação, temos em Maquiavel uma função estritamente instrumental, pragmática. Para ele o poder era a faculdade que o líder (príncipe em sua definição) desempenharia em sua melhor capacidade dentro de uma virtude ( virtú : termo que Maquiavel usa singularmente) onde a sua lógica era completamente ímpar daquela ingênua e baseada nas caracte

É possível conciliar fé e razão? - Agostinho e Tomás

A gostinho e Tomás de Aquino são duas importantes referências, dentro da cristandade, na busca de harmonizar a fé com fundamentação racional. O primeiro, no contexto da patrística, busca seu embasamento no neoplatonismo, o segundo, já na escolástica, recorre ao aristotelismo. O racionalismo de Platão coube para Agostinho na medida em que privilegiava um mundo metafísico, se valendo da tentativa de realizar as abstrações das ideias precedendo o mundo temporal. A razão, nesse sentido, fechada em uma lógica própria e circunscrita, foi instrumento que serviu aos argumentos que justificasse um universo argumentado na fé. Enfim, se o mundo último e real é o imaterial das ideias de Platão, então o mundo espiritual da fé tem sua aceitação por essa lógica proprietária. Tomás, que bebe no aristotelismo, ao fundamentar sua teologia, não opõe a razão à fé, antes compreende que a razão é um instrumento que tem em si qualidades lógicas que podem embasar seus argumentos de fé. De Aristóteles

Os meios de comunicação e a formação da realidade: Alegoria da Caverna

No Mito da Caverna, que consta da obra de Platão, A República, o filósofo usa de alegoria para ilustrar sua teoria do conhecimento conforme ele concebia. Esse mito possibilita, por ser simbólico, variadas interpretações de suas partes constitutivas, e se prenda à ideia de contraste entre conhecimento ilusório das aparências com o conhecimento verdadeiro das causas. Veremos especificamente como podemos fazer uma analogia do Mito da Caverna em relação ao fenômeno moderno dos meios de comunicação. Como sabemos, os meios de comunicação de massa atuam como uniformização de valores e comportamentos. Comparável à caverna de Platão, poderíamos assemelhar os conteúdos veiculados nos meios de comunicação às sombras que são vistas no interior da caverna. Por quê? Assim como as sombras na caverna são simples reflexos projetados da realidade, a virtualidade do mundo real ressignificado pelos meios de comunicação não é a realidade mesma. Agravante dessa condição é quando esses meios têm

Princípios de Precaução e Presentismo

  Em uma tentativa de discorrer dentro de um raciocínio lógico, creio ser prático começar explanando sobre a questão do presentismo. O Presentismo, tal como Hans Jonas propunha, é abordado por ele pela dimensão ética nas questões técnico-científicas. Para o filósofo alemão há um mal moral no sistema de exploração e produção, baseado na ciência e tecnologia, que não leva em conta seus impactos na natureza e gerações futuras. Esse princípio afirma que há uma mentalidade voltada apenas para as consecuções presentes, limitada às conveniências de lucro e demandas de mercado. Em síntese: tudo o que importa é lucro imediato, sem uma análise de seus desdobramentos deletérios para os sistemas de manutenção da vida e integridade da própria vida. Inúmeros exemplos poderiam ser relatados, porém podemos citar os que dizem respeito à indústria petrolífera, que para atender a demanda insaciável de energia, prospectam em regiões de frágil ecossistema, causando algumas vezes desastres em escala conti

FILOSOFIA CLÍNICA - A FILOSOFIA COMO INSTRUMENTO PSICOTERÁPICO

Márcio de Carvalho Bitencourt   RESUMO   Nesse artigo será apresentada a Filosofia Clínica e sua importância na sociedade atual. Por ser uma terapia incipiente em sua metodologia e teoria, serão vistos, de forma geral, suas ferramentas e relações com alguns aspectos e conceitos filosóficos. O homem moderno se encontra em um delta de opções quanto a seu destino e futuro, seja de maneira individual ou planetária. Essas opções lhe são apresentadas em um contexto de crises e incertezas, que exigem de sua estrutura psicoemocional uma têmpera que nem sempre ele está equipado para responder tal demanda. Advêm, não raras vezes, angústias e sofrimentos subjetivos paralisantes. Outras questões, de ordem imediata e idiossincrática, da mesma forma penalizam e urge solução. É nesse contexto que a Filosofia Clínica propõe, dentro da representação que o sujeito faz do mundo, pela radicalidade filosófica, auxílio que possa devolver ao sujeito autonomia e equipamento interior com o qual ele lide