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Mostrando postagens de fevereiro, 2013

Procede linhas filosóficas que comparam Maquiavel ao “demônio” da política?

A questão sobre a demonização de Maquiavel na política é basicamente de ponto de vista. Pela qualidade da obra de Maquiavel, sobretudo O Príncipe, por uma leitura mais detida e profunda, não seria possível valorá-la como maléfica ou benéfica. Mantida a perspectiva histórica e o entendimento do pensamento filosófico do pensador Maquiavel, fica demonstrado que o uso e interpretação que se faz de sua obra como tratado da maldade é improcedente.  O florentino ao produzir sua obra principal sobre política tomava como ponto de partida a realidade da natureza humana, que ele entendia ser gananciosa e capciosa, e de sua Itália dividida por permanentes crises políticas e constantes ameaças externas. Daí propor uma personalidade política forte e desvinculada das amarras morais e religiosas; muito embora não seja difícil ler em seu tratado atribuição de valor as virtudes como desejáveis e admiráveis.  É verdade que sua tese de personalidade política forte atribui caráter utilita

Contraponto entre o modelo europeu de sociedade medieval e o novo modelo que surge no pós-renascimento

Muitos contrapontos, entre a sociedade medieval e a proposta que surge em consequência do Renascimento, são possíveis. Porém vamos observar apenas alguns em contraste. A sociedade medieval era estática, enquanto a que fermenta como desdobramento das transformações iniciadas pelo Renascimento e impulsionada, agora, pelo Iluminismo assume um dinamismo extraordinário, que irá consolidar o projeto humanista que mexeu nas bases estamentárias e, sobretudo, religiosas que perdurou em torno de mil anos. O Iluminismo, que foi o movimento de transformação paradigmática resultante do Renascimento, abrangeu todas as esferas do mundo humano, nos campos filosófico, político, social, econômico e cultural. Consolida a quebra de hegemonia da Igreja e devolve ao homem sua autonomia e uso da razão como valores máximos. Soma-se a isso, por razões históricas e políticas, a ascensão da classe burguesa, que surge do segmento não privilegiado do arranjo social medieval, artesãos e mercadores. É dent

Os principais impactos da Reforma Protestante para a formação da sociedade moderna.

A Reforma Protestante foi um movimento de cunho religioso, que tem seu marco nas noventa e cinco teses de reprovação à prática católica em 1517, por Martinho Lutero. Porém seu contexto histórico e desdobramentos vão para além daquelas teses suscitadas por Lutero. Foi a culminação de insatisfações gestadas há bastante tempo devido aos excessos do clero e sua promiscuidade com o poder e, por ocasião, potencializada pelo humanismo nascente na Europa. Também podemos identificar outra força subjacente, os ideais burgueses, também tentando abrir espaço no cenário de poder econômico e, quiça, político. Nesse cenário trava-se o embate que irá revolucionar o mundo ocidental em diversos aspectos. Como o mundo feudal era sustentado pelas superstições e exacerbado por uma religiosidade tutelada, e a burguesia bem como outros setores da sociedade moderna pretendiam sacudir de si o sistema feudal, viram na possibilidade de quebra da hegemonia papal pelos protestos contrários a suas prátic

O protestantismo contribuiu para o fortalecimento do sistema capitalista?

É inegável a contribuição que o advento do protestantismo serviu aos propósitos da burguesia capitalista, embora haja análises diferentes dessa opinião. Pelo menos em dois aspectos fulcrais ele atua como importante força revolucionária que se alinha ao projeto burguês de poder. Um diz respeito à quebra de hegemonia da Igreja Católica, que detinha grande poder, e não estava interessada em dividi-lo com mais uma classe social, a nascente burguesia e seus anseios de liberalismo. Outro, de mudanças filosófica e doutrinária, reforçando a ideologia do capital, muda o conceito de que riqueza, antes de ser um pecado, passa a ser sinal distintivo da graça de Deus (calvinismo?). A quebra da hegemonia da Igreja, pela Reforma, libera imensas populações de seu jugo, que agora com a licitude de se obter riquezas, fomentará um mercado de transações que irá expandir as relações capitalistas em escala exponencial. Somam-se a isso algumas medidas que a Revolução Francesa implantou e deixou como mo

O uso da razão científica proposto pelo movimento iluminista obteve o sucesso esperado?

Para uma resposta positiva sobre se a razão científica conseguiu responder todos os problemas da humanidade, teria de restar nenhuma pergunta que fosse problema a ser resolvido. Não é esse o caso. Porém muitas reflexões podem ser feitas de grande valor sobre essa questão. O Iluminismo foi a experiência histórica no mundo europeu do século XVIII, que pretendeu revolucionar a ciência e o pensamento filosófico até aquele período. Foi fruto do amadurecimento do pensamento que vinha gestando aproximadamente há dois séculos. Seus propugnadores entendiam que a humanidade estava mergulhada no atraso da superstição, tirania política e religiosa, sendo tutelada por aqueles que detinham o poder vigente através do medo e ignorância. Os iluministas acreditavam que com o império da razão a humanidade baniria o atraso em todas as áreas humanas. Traria a felicidade e possibilidade de realizações extraordinárias, com o desenvolvimento das ciências capitaneadas pela supremacia da razão. Logo, por