Arte e Filosofia

           O Grito, 1893. Munch                                                         Construção Mole com feijões Cozidos (Premonição da Guerra Civil), 1936. Dalí

 Como toda obra de arte, para se completar, pressupõe a interpretação daquele que a admira, muito embora há sua contemplação por mero deleite estético.  Vislumbro na obra de Munch, O Grito, dois pontos de correlações com o pensamento de Nietzsche em conexão com o existir do homem, quais são: o primeiro, na simbologia do personagem do Grito, que revela horror e perplexidade de uma tomada de consciência no quadro da tragédia da vida, onde inexiste a presença de Deus determinando tudo, e sim lhe é revelado nesse assombro o devir cíclico, o eterno retorno, que em suas mãos encontra-se a condição de sua realização (digressivo, diria que é, semelhante em Nietzsche, “a corda” na angústia do medo da revelação do super-homem que ele, livre, tem a possibilita de vir a ser), e se lhe apresenta a Natureza, eterna, em toda sua dramaticidade; o segundo, dentre muitas imagens significativas do quadro, é o elemento não distorcido, aliás dois, as duas figuras humanas e a ponte, que se mostram impassíveis às ondas do grito. As demais figuras são envolvidas pela distorção sonora. Essa indiferença poderia ser traduzida pelo racionalismo crítico e pelo cientificismo que Nietzsche diverge, pois para ele essa visão utilitária do homem e da vida destitui do homem valores superiores e embaça sua vocação (vontade de potência) de se tornar o homem superior (super-homem).
 Na obra de Dalí, que se inscreve no Surrealismo e tem inspiração nas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, e este afirmava que o homem não se definia apenas por sua consciência, pelo contrário, o inconsciente é a parte mais preponderante do homem, podemos perceber essa relação entre a obra de um e o pensamento do outro, em pelo menos dois aspectos: um se nota na exploração pictórica de imagens extraordinárias, criadas a partir do ambiente fantástico do inconsciente que, segundo Freud, é de onde flui a emoção mais profunda e verdadeira do homem (interessante notar que o homem racional, consciente, nesse sistema de definição do sujeito, é artificial, reproduzindo apenas convenções impostas pela sociedade); outro é percebido no simbolismo que o artista explora, por exemplo a mão que estrangula um seio, representando a truculência pela mão e a vida e a sensibilidade pelo seio, o mesmo ser se violentando como que o povo espanhol numa guerra civil, fratricida. Assim como para Freud o inconsciente traduz melhor a essência do homem, em Dalí esse inconsciente lhe serve como o melhor meio de comunicação de seu pensamento e sensibilidade, sua expressão.
 Ambas as imagens têm como intersecção o apelo para o homem em sua realidade subjetiva, sua vida interior, mental, psicológica; o sujeito encontra sua representação plena, seu sentido existencial, no seu mundo interior, ordenando os instintos e desejos na direção de sua realização enquanto homem...
 Na efervescência intelectual do final do século XlX e início do XX, onde os pensamentos de Nietzsche e Freud eram assuntos nos círculos filosóficos, encontramos um outro pensamento, o de Marx. Se por um lado tinha ponto de contato com o nietzscheano no que diz respeito ao pensamento cristão, e nisso eles estavam de acordo: o cristianismo era uma marca e influência deletéria na realização plena do homem, na sua jornada  em direção à sua construção como homem completo, próximo ao ideal de felicidade; por outro, dessemelhavam nos fundamentos e princípios filosóficos de interpretação da realidade e base da existência daquilo que faz do animal que pensa e fala um homem completo. Para Nietzsche, o fundamento da realidade se encontra no que denomina de “eterno retorno”; Marx defende o Materialismo Histórico Dialético como motor vivo da realidade do homem e é dentro dela que este se move e se faz homem, numa dialética que se embate permanentemente em forças antagônicas; essas forças estão em contradição umas contra as outras, o que para Nietzsche, diferentemente, esses contrários estão em harmonia dentro de seu “eterno retorno”. Essa visão de Marx pode ser depreendida (numa interpretação livre e usando de licença “poética”) nos rostos em agonia e cenários dramáticos, denotando uma dialética em um homem que, nesse embate, em uma época de radicais mudanças, se torna consciente de sua condição animal, lutando pela sobrevivência. Se esse entendimento dos contrários para Marx sempre resultava numa nova ordem, um processo sempre de transformação, para Nietzsche, com seu eterno retorno, tudo se repete infinitamente.   

Márcio de Carvalho Bitencourt

Comentários

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