Os meios de comunicação e a formação da realidade: Alegoria da Caverna

No Mito da Caverna, que consta da obra de Platão, A República, o filósofo usa de alegoria para ilustrar sua teoria do conhecimento conforme ele concebia. Esse mito possibilita, por ser simbólico, variadas interpretações de suas partes constitutivas, e se prenda à ideia de contraste entre conhecimento ilusório das aparências com o conhecimento verdadeiro das causas.

Veremos especificamente como podemos fazer uma analogia do Mito da Caverna em relação ao fenômeno moderno dos meios de comunicação. Como sabemos, os meios de comunicação de massa atuam como uniformização de valores e comportamentos. Comparável à caverna de Platão, poderíamos assemelhar os conteúdos veiculados nos meios de comunicação às sombras que são vistas no interior da caverna. Por quê? Assim como as sombras na caverna são simples reflexos projetados da realidade, a virtualidade do mundo real ressignificado pelos meios de comunicação não é a realidade mesma. Agravante dessa condição é quando esses meios têm por ideologia manobrar e distorcer as consciências e visão de mundo das massas, para atender um projeto de dominação alienante ou induzimento de hábitos de consumo.

Tomemos, à maneira de exemplo para todo conjunto midiático, o fenômeno televisivo. Quando se está assistindo uma matéria jornalística em que se noticia um evento qualquer do cotidiano, apesar de estar em tela imagens e fatos “reais”, o que se revela é um pequeno quadro, descontextualizado de uma realidade maior com sua rede de causas e consequências. Por esse artifício a informação é direcionada para um fim determinado, manipulando a opinião pública que privilegiará um projeto de iludição político.

Comparativamente, as imagens assistidas na televisão são arremedos da realidade assim como aquelas imagens refletidas no fundo da caverna são apenas penumbras de uma realidade, que é muito mais significativa.

Aplicando a dialética platônica para se alcançar a verdade – o mundo das ideias onde a razão desempenha intelectivamente função de transcendência para se atingir o Bem e ao Belo – há que ultrapassar o sensorial em um esforço filosófico perquirindo a essência e realidade última das coisas até atingir todo o quadro com suas reais perspectivas. Saindo da caverna, símbolo da ignorância, através do processo dialético, aquele que perscrutando além das sombras e imagens desvenda as relações e implicações, para além do restrito quadro veiculado, e pretende esclarecer outros indivíduos também sofrerá risco de hostilização. 

A atualização do Mito da Caverna de Platão é de importância filosófica e política interessantíssima. É possível, ao compreender a simbologia do mito e aplicar o método dialético de Platão, movendo-se através da tese, antítese e síntese dos fatos da realidade ascender a uma consciência mais elaborada e refinada da realidade, indo além da simples notícia que atinge nossa consciência.  

Enfim, os meios de comunicação podem induzir uma condição de consciência distorcida e ilusória da realidade, se não for avaliado e tomado por uma abordagem crítica e pela radicalidade da busca de quais interesses particulares estão envolvidos nas informações veiculadas. Acrisolado dialeticamente, a indústria da comunicação pode ser uma ferramenta de grande valor para informação e o aprimoramento da sociedade.



Márcio de Carvalho Bitencourt


Comentários

  1. Me ajudou um pouco ... não consegui entender direito a relação mais o pau tora

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A Lógica do Poder em Maquiavel

O Cristianismo é um Platonismo para o Povo

Teoria dos Ídolos de Francis Bacon