Princípios de Precaução e Presentismo
Em uma tentativa de discorrer dentro de um
raciocínio lógico, creio ser prático começar explanando sobre a questão do
presentismo. O Presentismo, tal como Hans Jonas propunha, é abordado por ele
pela dimensão ética nas questões técnico-científicas. Para o filósofo alemão há
um mal moral no sistema de exploração e produção, baseado na ciência e
tecnologia, que não leva em conta seus impactos na natureza e gerações futuras.
Esse princípio afirma que há uma mentalidade voltada apenas para as consecuções
presentes, limitada às conveniências de lucro e demandas de mercado. Em
síntese: tudo o que importa é lucro imediato, sem uma análise de seus
desdobramentos deletérios para os sistemas de manutenção da vida e integridade
da própria vida. Inúmeros exemplos poderiam ser relatados, porém podemos citar os
que dizem respeito à indústria petrolífera, que para atender a demanda
insaciável de energia, prospectam em regiões de frágil ecossistema, causando
algumas vezes desastres em escala continental ou mesmo planetários. Poderíamos
discorrer sobre o presentismo na
indústria farmacêutica, energia nuclear, na biotecnologia e em todas as áreas
que envolvam a exploração econômica da natureza e necessidades humanas. Essa é
uma questão profunda e delicada, pois traz em sua discussão demandas econômicas
crescentes e legítimas das populações e a capacidade industrial de supri-las.
Essa reflexão enseja outro conceito criado
dentro da prática do controle social: o “Princípio da Precaução”. Este
princípio baseia-se na ideia de que se uma prática, a qual seu procedimento ou
produto estejam envolvidos riscos à saúde pública ou ameaça dos sistemas
naturais de manutenção da vida, pela precaução, deve-se mantê-lo em quarentena
até que seus riscos sejam bem avaliados e seu controle dominado. Mais: que, por
conta dos perigos que uma exploração cega e unicamente baseada no lucro de
alguns grupos, se reverta toda a lógica de fazer ciência e industriar. Que essa
lógica esteja centrada no bem-estar da humanidade acima de qualquer outro
interesse. Os propugnadores dessa tese propõem que essa transformação ética
seja empreendida tanto pelo cidadão leigo quanto pelos homens de ciência. Aí também
seria imprescindível a participação de todas as esferas de poder e interesses,
tanto políticos quanto dos “impérios econômicos”, penso. Uma utopia a ser vencida?
Enfim, o controle social é, sabidamente, uma arma poderosa de pressão nos
interesses que, por ingenuidade ou irresponsabilidade, vêm colocando em risco a
qualidade de vida e alegria de usufruir a vida com segurança e perspectiva para
as futuras gerações.
Márcio de Carvalho Bitencourt
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